4/14/2011


- O que estou fazendo? É isso que você quer saber?

- Sim, sim!

- É uma poética cênica. Estou pensando a criação a partir dos cultos de fertilidade, mitos da criação, procriação de singularidades, celebração da alteridade. É uma trilogia e nesse momento estou trazendo a última parte: “Incômodos: para quem ainda vir a me amar”.

- Conta pra mim um pouco dessa poética cênica!

- Claro! Posso te dizer que é um acontecimento cênico onde o amor atravessa de ponta a ponta. É... Respirar livremente, expandir-se! A aurora da insurreição e o início do tirar o véu e o genuíno rebelar-se. E... E... A expiração de uma conversa comigo; bem como a materialização estética/ética da discussão que venho travando com o meu amor. Junto a isso, descubro e revelo as instâncias institucionais que cercearam a minha livre expressão de amar. 

(acende um cigarro, toma um gole de vodka - pausa)

- Quais?

- (brutal) A moral judaico/cristã/capitalista através do Catolicismo e dos movimentos evangélicos! Estes foram proeminentemente os construtores dos valores perversos que até certo tempo de minha vida tive que prestar obediência. (longo trago) Foram eles que gestaram as ruas, as escolas, as casas, as brincadeiras, o vestir, o comer... (outro trago - agora mais calmo) Além disso, hoje percebo que a origem da força tirânica que sempre tentou dominar os meus impulsos amorosos está nos antigos hebreus. Coitados! Precisavam aumentar a sua população para se salvarem da escravidão, logo toda a atividade sexual que não provocasse o aumento de seu contingente populacional estava completamente desautorizado. Como também, o surgimento da Igreja Católica e o seu discurso das leis da natureza e a sexualidade apenas com fins reprodutivos. A culpa! O pecado! A negação do prazer! E ainda o capitalismo e toda a sua necessidade de construção de mão-de-obra, tanto para manter o aumento do capital das classes dominantes como para a reserva de mãos para o trabalho. (Acendendo outro cigarro) Agora você imagine isso tudo já misturado e imposto na vida!

- Como você pretende...

- Só mais uma coisa!

- Vai.

- Desejo compartilhar a minha recusa a esses valores. Expor a eu/cura ao afirmar uma crença/pratica na liberdade afetiva e na celebração da alteridade. Assim vou brincar com essas questões - compor esta poética do regresso do mergulho em mim. É quando eu volto das eus/profundezas em direção as minhas comunidades... (apaga o cigarro) Intento compartilhar saberes adquiridos... (olhar forte) As vivências dessa jornada interior e a minha cura. 




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