4/12/2011


- Sempre fico com vontade de te ver falar. Mas pra mim é sempre tão difícil. (saindo do pensamento)

- (risos) Você me faz lembrar das corrente marinhas. Isso! Sou um imenso oceano repleto de desvios. São fluxos intensos: pulsações e vitalidades! Refletem a urgente necessidade de desembocar. (com um forte gosto de sais na boca) São os frutos permitidos, desejados: é aquela tentação que justamente consumo no sangue, o doce infantil de minha ganância divina... (discreto sorriso) minha megalomanice vibrante divinal!

- Um oceano... agora você me fez lembrar o dia que mergulhei na praia da Pajussara em Maceió e sentia uma água bem gelado no pé e no joelho, mas na barriga e nas costas era quentinha. (risos) Legal! 

- É assim que vou me interpretar, me reinventar. Isso significa que vou mergulhar e quando eu voltar vou compartilhar essas profundezas e fluxos com minhas comunidades. Logo quando penso no fazer artístico o que desejo é compartilhar essa vivência. É o ofício de comunicador com características de inventor. 

- Então isso seria uma das especificidades de sua construção poética? 

- Sim. É mergulhar e compartilhar. Portanto, esse ato desvela muitos fluxos. Poderia chamar de um olhar prisma, mosaico, diamante lapidado. Cósmico, holístico! Assim vou explicar a impossibilidade de uma especialização e fundamento toda a minha recusa as instituições e meu profundo desejo de destruí-las.

- Porquê?

- Entendo arte como uma potente possibilidade de se comunicar. Consequentemente um forte instrumento de poder econômico/político/social/cultural, vida! Desta forma não pode estar instituído, não pode estar estruturado nas mãos de poucos, nas mãos daqueles tiram o poder de luta e de transformação da humanidade. (quase frenético) São governos tirânicos! Instituições reprodutoras de infertilidades! Modelos de educação para o medo, para não se criar problemas! É urgente criar problemas e com isso confrontar essa educação para a servidão, esse modelo escravista, essa fabricação de mão-de-obra. (pausa) E quando falo disso também estou falando diretamente de arte. (como quem se questiona) Ando refletindo sobre essas questões e das ações que alguns profetas da revolução vem empreendendo em suas vidas e comunidades. 

- Estou começando a compreender o que você chama de mergulhar num oceano. É... Os fluxos são as varias faces de uma mesma coisa: o mosaico, o diamante lapidado. Assim quando você entra em processo criativo você esta dispondo a entrar num labirinto... Um contato com o infinito! O universo de um oceano!

- Posso dizer que concordo com sua colocação. E ainda diria que é exatamente por isso que a singularidade de cada um é tão importante no processo. O que intento é compartilhar percepções do existir. É o ato de compor perfumes de memórias inventadas, é mais a estória de certas ilusões, de certos conjuntos de idéias e de imagens que se apresentam ao eu-corpo durante o sono em vida, de certas utopias, de certos ideais quiméricos (bolo muito fofo de fantasias que, às vezes, são fritos em azeites de realidades desgraçadamente vividas como calda de açúcar, ovulados pelo esquecimento no ato).

- Ai... Agora me confundi todo. Explica?

- O que me interessa é sua confusão, é o seu delírio, é sua capacidade de responder criativamente no instante da existência. As verdades absolutas, os grandes entendimentos não me despertam muitas vontades.

(silêncio)

- Viver se aprende vivendo. A vivencia, ou melhor, experimentar o gosto do vivo com intensidade faz brotar o impulso, é só deixar sair. É o caminho da produção de linguagem, da construção poética como potência de vida. O nascimento do ser criativo!

- Que lindo!

- E o que desabrocha em mim, como meio de expressão e comunicação, é a ética/estética do desfrutar de nós... Oblação! 

- Oblação? O que é Oblação? 

- Explico: é um oferecimento, uma oferenda. É a ação pela qual se oferece qualquer coisa a deus. 

- (num esgar de susto) Deus? 

- Sim! Já consegui demolir a construção, ou melhor, a formação de deus que me enfiaram. Hoje penso em espiritualidade, celebro os caminhos da intuição e reinvento deus como a grande metáfora da criação. Desse modo, enxergo os outros como potentes seres criativos, logo deuses. Então a oblação é o oferecimento de um deus para outro deus. Isso é o que faço. Este é o movimento poético que anda me nutrindo. E mais: junto a isso tudo tem também o pensar da demolição. É uma atitude de desmantelar as verdade absolutas impostas, de derrubar os a priori institucionais. É uma crença/prática da ação de reinventar-se, renascer em si mesmo. Uma poética da expiração, do deixar sair livre, desapegar-se, que gera a cura.

- Fale mais!

- Na verdade uma grande concepção poética do fazer as pazes com a morte: o feio e o grotesco e com a vida: o sublime e o belo. Portanto, esta é uma percepção subjetiva e singular que só pode estar em vida quando se dividi e/ou se multiplica e/ou se compartilha.

(silêncio)


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